terça-feira, 10 de junho de 2008

Rever Camões




Vi que a companhia de teatro de Braga vai levar à cena uma adaptação de "Os Lusíadas" com encenação e dramaturgia de Alexej Schipenko. É uma nova leitura para um público maior de 16 anos e onde o objectivo é uma tentativa de desmistificar a forma pedagógica que transmite “Os Lusíadas” de geração em geração, e para isso a Companhia de Teatro de Braga coloca, agora, em acção o projecto que idealizava há já três anos – a “entrega” a Alexej Schipenko da «Obra Portuguesa» e, consequentemente, de «de uma grande parte da “nossa” identidade».

Teremos nós já apreendido o conteúdo que "Os Lusíadas" nos poderão transmitir com uma leitura dita simples? Será que a nossa incapacidade para a assimilação do conteúdo tem de nos levar irremediavelmente para leituras formalmente inovadoras?

Como ficamos deslumbrados com as vivências que as leituras dos quadros históricos de "Os Lusíadas" nos proporcionam. Rever a aventura dos 12 nobres cavaleiros que vão a Inglaterra defender 12 Damas ofendidas na sua honra ou as vivências de um titã como Adamastor que por amor a Thetis fica condenado a ser um promontório horrendo. E a descrição da Máquina do Mundo que Vasco da Gama tem oportunidade de contemplar? Mas também o sentido de humor protagonizado pelo Veloso, um dos muitos marinheiros da gesta heróica: fugindo rapidamente ladeira abaixo para voltar para a embarcação após uma curta incursão em terras estranhas, pois era atacado por indígenas, e ouvindo os seus companheiros ironizarem por correr tão rápido exclama "Mas, quando eu para cá vi tantos vir(...) depressa um pouco vim, por me lembrar que estáveis cá sem mim."
Será que não há algo dentro de nós que vibra e, de certa forma, revive estas aventuras de grande valor? Não quereríamos ser da altura de um Gama, ter a sua capacidade de actuar e transformar o mundo em que vivemos?

E que o Dia de Portugal e de Camões seja um bom momento para ir vendo e revendo a obra do grande vate.